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Homeopatia Vet.

Homeopatia Vet.

HOMEOPATIA VETERINÁRIA

 

Por,Mônica F. A. Souza

Brasil

 

A Homeopatia, genial terapêutica descoberta e desenvolvida pelo médico alemão Samuel Hahnemann no final do século XVIII, primeiramente utilizada no tratamento de moléstias em seres humanos, tem sua eficiência comprovada no tratamento das mais diversas espécies animais. Para entender a utilização da Homeopatia na Medicina Veterinária, reportam-se à história da Homeopatia, que se inicia quando Hahnemannn, decepcionado com a medicina agressiva e pouco eficiente de sua época, abandona-a e dedica-se a traduzir livros e trabalhos científicos. Trabalhando na tradução de uma Matéria Médica sobre a utilização de China officinalis no tratamento de malária, algo fez com que Hahnemann, de forma inusitada, experimentasse China em sí mesmo, resultando em que todos os sintomas da malária produziram-se de forma branda em seu organismo. A partir desse auto- experimento, Hahnemann constatou a Lei da Semelhança, enunciada por Hipócrates há vários séculos ( Similia similibus curentur). Sendo assim, seguindo em experimentações de outras substâncias e anotando as observações, Hahnemann desenvolveu de forma brilhante a Homeopatia. Essa nova “Arte de Curar” como era chamada a Homeopatia por Hahnemann, apresenta quatro princípios fundamentais:

 

1. Princípio da Semelhança: Quando um paciente relata os sintomas de sua doença é ministrado a ele o remédio feito a partir daquela substância que produziu os mesmos sintomas na experimentação ou na "doença artificial”. Em outras palavras, toda substância que produz certos sintomas é capaz de curá-los.

 

2. Experimentação no Homem Sã: Se o indivíduo que experimenta uma substância estiver acometido de algum mal, então os resultados não serão confiáveis, pois não se saberá se os sintomas colhidos são do mal anterior ou produzidos pela ingestão da substância experimentada. Alguns sintomas também eram colhidos através da observação de intoxicações acidentais com venenos.

 

3. Medicamento diluído e dinamizado: Esse procedimento, base da farmacotécnica homeopática, é o que confere o poder curativo do medicamento homeopático. Foi descoberto por Hahnemann quando este, no intuito de minimizar os efeitos tóxicos de algumas substâncias letais, onde os sintomas do doente eram semelhantes aos da intoxicação por essa substância, diluiu-as e agitou-as. Observou, então, que ao administrar esse medicamento aos seus pacientes, a melhora ocorria de maneira mais rápida e efetiva. As doses infinitesimais da Homeopatia ainda causam muita polêmica; porque quando se admite que não existe mais substância em sua forma ponderal nos medicamentos, ocorre uma reação de mal estar na comunidade científica tradicional. Segundo Kent, notável homeopata inglês, que antes de se convencer da eficácia da Homeopatia era um severo crítico dessa ciência, "É impossível às nossas faculdades cognitivas entender a realidade do além dos sentidos". Essa assertiva é explicada pelo Vitalismo, corrente que prega que o que rege e plasma a nossa matéria, ou seja o nosso organismo, é a Energia Vital, e quando essa está desequilibrada, o corpo material também se desequilibra.

 

4. Medicamento Único: A escola Hahnemaniana indica que toda a gama de sintomas apresentados pelo doente deve ser analisada, e após montar o "mosaico" de todos esses sintomas, apenas um medicamento deve ser prescrito, pois apenas esse corrigirá o desequilíbrio do paciente, levando-se em conta a sua maior semelhança com a doença. A utilização da Homeopatia em animais data da época em que foi testada pelo próprio Hahnemann, que medicava seus cavalos com essa terapêutica. Além dele, Guilherme Lux (1773 - 1849), trabalhou com medicamentos dinamizados em animais doentes de mormo com sucesso, através de conhecimentos obtidos com Hahnemann.

 

A Homeopatia Veterinária na atualidade

Após muitos anos na semi-clandestinidade, exercida por alguns profissionais ( médicos, em sua maioria ), a partir da década de setenta a Homeopatia foi elevada à categoria de especialidade médica. Em seguida, foram criados cursos de Homeopatia para veterinários. Antes dessa época, aqueles veterinários que exerciam a Homeopatia o faziam de forma autodidata. Atualmente, existem alguns bons cursos de Homeopatia para veterinários no Brasil, cursos esses avaliados pela AMVHB - Associação dos Médicos Veterinários Homeopatas Brasileiros, entidade que obteve uma grande vitória no ano de 2000, ao conseguir junto ao Conselho Federal de Medicina Veterinária o reconhecimento da Homeopatia como especialidade Médico-Veterinária., concedendo o título de Especialista àqueles veterinários homeopatas que forem aprovados no exame aplicado pela AMVHB.

 

A Prática da Homeopatia na Medicina Veterinária

A Homeopatia prioriza o tratamento de cada organismo como único, respeitando as suas

particularidades. Com base nessa premissa, a conduta do médico veterinário homeopata é a de individualizar o paciente, buscando ao máximo todos aqueles sintomas raros, estranhos e peculiares apresentados na moléstia, entendendo que o que é digno de curar é o doente e não a patologia propriamente dita. Em decorrência desse fato é que a maioria dos médicos veterinários homeopatas atuam na clínica de pequenos animais. Historicamente, quando um proprietário vem procurar o atendimento por Homeopatia para o seu animal, o faz por ter esgotado todos os recursos em alopatia. São, geralmente, casos crônicos como dermatites, otites resistentes a antibióticos e convulsões. Recentemente, os casos de distúrbios comportamentais são preferencialmente encaminhados para tratamento homeopático, obtendo-se êxito na maioria das vezes. No tratamento de rebanhos, a particularização é feita entendendo que o rebanho pode ser considerado um organismo único; cada grupo tem características próprias: raça, temperamento, ocorrência geográfica e outros. Todos são fatores que devem levados em conta e que caraterizam aquele rebanho como único e suas moléstias como particulares. Foi a partir dessa conduta que Hahnemann tratou uma epidemia de escarlatina em seu tempo com Mercurius, que era o medicamento com cobertura sintomática daquela epidemia em particular. Hahnemann chamou de Medicamento do Gênio Epidêmico aquele utilizado para tratar uma moléstia que acomete toda uma população. Tendo em vista a experiência de vários profissionais médicos veterinários homeopatas, é que se sabe que a Homeopatia pode ser utilizada em animais das mais diversas espécies. Também por experiência depreende-se que algumas espécies, especialmente os eqüinos, respondem muito bem e rapidamente à Homeopatia. Passamos a relatar pormenorizadamente a conduta de tratamento homeopático em diversas espécies e alguns casos clínicos.

 

1. CÃES

São os mais humanizados dos animais domésticos, por seu contato direto com o homem desde

primas eras. Na consulta homeopática, a anamnese prioriza os sintomas de comportamento do animal em questão, buscando todos aqueles sintomas estranhos e peculiares (ciúme, ansiedade, medos, irritabilidade, depressão, etc), a sua história biopatográfica ( desde quando e qual a causa do distúrbio), as interações desse animal em sociedade e com as pessoas com quem ele convive. É muito comum na tomada do caso, colher a informação de que a família está passando por um momento de stress, e por isso supõe-se que o animal pressinta esse desajuste e sofra também junto com as pessoas que lhe são queridas, adoecendo em decorrência disso. Após essa etapa, a anamnese é focada na observação dos sintomas de sede, apetite, sensibilidade térmica, em que situação os sintomas se agravam ou se suavizam( deitado, andando, ao ar livre, no inverno). Todos esses dados, somados ao diagnóstico clínico mais os exames complementares, dão ao médico veterinário homeopata subsídios para prescrever a esse paciente o seu medicamento, que cobre toda essa gama de sintomas e traduz-se como aquele que equilibrará a Força Vital desse indivíduo. Ocorrem, às vezes, situações em que se prescreve mais de um medicamento, porém essa não é a conduta padrão. Esse animal, nos retornos à clínica, será avaliado quanto aos sintomas que desapareceram, aos novos sintomas que surgiram, às mudanças em seu comportamento, sendo essa análise o prognóstico clínico dinâmico do caso. A partir dessas observações, o veterinário homeopata decidirá por nova medicação ou pela manutenção do medicamento primeiramente recomendado.

 

Exemplo de um caso clínico

Cão, Pastor Alemão, 3 anos.

O veterinário homeopata recebe esse paciente de um colega alopata que relata convulsões que obedecem um padrão curioso: o cão apenas convulsiona às sextas feiras. Na tomada do caso, é informado de que o cão é muito carinhoso, destruidor de objetos, de comportamento excepcionalmente infantil apesar de já ser adulto e que apresentou uma otite, tratada com antibióticos há aproximadamente 3 meses. Esse cão estava há pouco tempo com essa família; o dono anterior o doou por não suportar o seu temperamento destruidor. Foi relatado que por muitos dias o animal se alimentou muito mal e ficou quieto, mas , há cerca de dois meses estava mais "alegrinho".

Foram escolhidos como "guias" os sintomas;

1. (a) Abandono

(b) Convulsões periódicas - a cada sete dias

(c) Comportamento infantil

(d) Comportamento destruidor

(e) Supressão de descargas (tratamento da otite)

O medicamento escolhido para tanto e que tinha maior cobertura sintomática era Stramonium que, alguns dias após administrado, provocou a volta da otite. O proprietário foi orientado a não tratá-la dessa vez e, após mais uns dias, a otite cessou e o animal nunca mais apresentou os sintomas de convulsão.

Observa-se nesse caso clínico a Lei de Hering que enuncia: “A cura se processa de dentro para fora e de cima para baixo, apresentando sintomas em ordem inversa ao seu aparecimento, partindo de órgãos mais nobres para os menos nobres."

O caso desse pastor alemão foi um clássico exemplo da atuação dessa lei, onde o desequilíbrio verificado através dos sintomas cerebrais (órgão nobre) se encaminha para o ouvido (órgão menos nobre), até a cura. Demonstrou-se, ainda, a conduta do médico veterinário homeopata perante anamnese, observando o interesse pelos tais sintomas raros e a preocupação pela gênese do desequilíbrio (o abandono).

 

2. OUTROS ANIMAIS

O caráter particularizante da terapêutica homeopática permite que todas as espécies de animais domésticos sejam beneficiadas com esse tratamento. Algumas espécies, a exemplo dos eqüinos, tem especial receptividade à Homeopatia, e a velocidade de resposta à administração do medicamento é impressionante nesses animais.

Se, nos animais domésticos, contamos com o recurso da anamnese feita junto ao proprietário,

no tratamento dos animais silvestres utiliza-se o recurso da observação do comportamento desses animais, colhendo assim os sintomas necessários para a prescrição. O grande desafio ao tratar os animais silvestres salvos do cativeiro e portanto stressados e traumatizados, é solucionado pela Homeopatia. Esses animais tem sensibilidade a princípios medicamentosos de uso alopático e a contenção para aplicação de medicamentos como injeções podem resultar na morte do animal. Uma das vantagens na utilização da Homeopatia nesses animais é que a administração do medicamento é possibilitada através da água ou alimento , contribuindo para não agravar ainda mais o stress da captura. Nesse particular, a Homeopatia oferece condições de tratamento do animal silvestre em seu desequilíbrio originado pelo trauma do cativeiro, partindo do pressuposto que o animal é tratado por inteiro, incluindo o equilíbrio de sua esfera mental. Acrescenta-se a isso o benefício de não intoxicar esse animal com substancias desconhecidas por seu organismo, contidas nos medicamentos de uso convencional.

 

Homeopatia no tratamento do rebanho

O rebanho, com todas as particularidades das espécies envolvidas em uma determinada criação animal, é considerado pela Homeopatia como um organismo único, e assim é tratado, obedecendo aos passos para a conduta do tratamento individual.

As vantagens da utilização da Homeopatia nos rebanhos incluem:

 

1. Equilíbrio animal: O caráter energético da terapêutica homeopática confere aos animais tratados a redução do stress, especialmente no confinamento, devido a essa situação ser muito diferente da do ambiente natural a que estes estão acostumados, Dessa maneira, esse procedimento, em conjunto com um manejo adequado possibilitam o Bem Estar Animal, condição indispensável ao equilíbrio energético e à conseqüente saúde do rebanho. Animais criados em condições de pouco stress desenvolvem melhor suas potencialidades de produção com qualidade.

 

2. Facilidade de administração: o medicamento homeopático é administrado por via oral, podendo ser colocado na água, ração ou sal mineral possibilitando assim, administração fácil e não invasiva, de forma que os animais não são submetidos a contenção e traumas, como pela

aplicação de injeções.

 

3. Inexistência de resíduos: os produtos dos animais tratados com Homeopatia não apresentam resíduos, motivo pelo qual ela é utilizada em modelos orgânicos de produção.

 

4. Ausência de contaminação do meio ambiente: a Homeopatia não representa risco de contaminação, como o dos parasiticidas usados nos banhos de bovinos de corte que, à semelhança de outras substâncias para controle de parasitas, contaminam água, plantas e solo. Essa contaminação altera o meio-ambiente, reduzindo os insetos endêmicos que auxiliam

no controle biológico de pragas. Um bom exemplo é o besouro "vira- bosta", que controla o desenvolvimento das larvas da mosca do chifre que crescem nas fezes dos animais.

 

Com base em dados colhidos ao longo de anos em que utilizou-se Homeopatia em rebanhos de gado de corte no Brasil Central, observa-se que alguns distúrbios de comportamento são tratados com eficácia e facilidade, pois o medicamento é administrado via oral na ração ou sal mineral no cocho, salientando em particular:

 

1. Stress de desmama: Os bezerros, ao serem desmamados, apresentam queda de peso e maior susceptibilidade a doenças, devido à condição stressante quando da separação de suas

mães. Estas também ficam fragilizadas, procurando suas crias, mugindo, alimentando-se mal e

tentando pular as cercas.

2. Sodomia : Essa condição apresenta-se quando machos não castrados são colocados juntos em confinamento ou em piquetes. Devido à alta na taxa de seus hormônios sexuais e ao stress

imposto pelo confinamento, os garrotes apresentam comportamento de cobertura constante, escolhendo um para ser o animal coberto. Essa prática induz ao gasto de energia, à inapetência e a traumatismos, resultando em menor ganho de peso.

O controle de ectoparasitas como carrapatos, moscas do chifre, bernes, piolhos é brilhantemente resolvido pelo uso da Homeopatia nos rebanhos extensivos de gado de corte, especialmente naqueles animais de raças cruzadas (raça nelore x raça européia ). Essa prática mantém o meio ambiente sem contaminação dos parasiticidas usados comumente nos bovinos e propicia uma carne livre de resíduos tóxicos para a alimentação humana.

Depreende-se, portanto, que a qualidade de vida dos animais irá refletir-se na dos seres humanos.

Seja na satisfação por observar que o seu animal de estimação apresenta-se saudável, seja por sentir que seu organismo está menos intoxicado, seja por saber que espécies com risco de extinção podem ter uma chance de tratamento seguro ou seja, principalmente, por ter a chance de consumir alimentos mais seguros e puros. Pela situação geral do planeta, tão depredado, contaminado e desequilibrado, a Homeopatia representa a possibilidade do verdadeiro equilíbrio e esperança de retomada de práticas de não agressão. Ou, como dizia Samuel Hahnemann, a expressão da verdadeira "Arte de curar".